COMO CONTAR HISTÓRIAS

Contar histórias é uma arte, que poderá ser nata em muitas pessoas. Mesmo não sendo visível em alguns professores, poderá ser desenvolvida através de estudo e treino, podendo eclodir habilidades em potencial.
A preparação do ambiente antecede a conversa, recomenda-se criar um espaço para a narrativa que desperte a criança para este momento. O espaço deve ser calmo e os ouvintes devem estar bem acomodados. As crianças têm um poder de concentração muito pequeno, desvia a atenção por qualquer fato, portanto, é importante antes da contação fazer um acordo de convivência. Esse acordo deve ser feito entre elas e deve ser explicado o porquê.
O narrador deve preocupar-se com a arrumação da sala para tornar esse momento prazeroso. Os ouvintes deverão sentar-se em círculo, e o narrador deverá fazer parte desse circulo, sentando-se junto com os ouvintes. Se a apresentação envolver dramatização, o narrador deve manter distancia para garantir melhor sua desenvoltura. Porém, é importante que o narrador fique sentado ou de joelhos durante a contação, já que os ouvintes estão sentados em cadeiras, o narrador poderá sentar-se também ou ficar de pé, nunca o inverso.
Outro cuidado importante é com o horário. Recomenda-seque essa atividade seja realizada pós um jogo ou outra atividade de grande movimento para que as crianças descarreguem a energia e a atenção será maior.
A conversa antes da história tem como objetivo principal dar espaço para que as crianças falem sobre questões que provavelmente surjam como interferências durante a narração.Logo essa conversa deverá iniciar com a sondagem de acordo com a história e seus personagens, isso evitará que eles interfiram, na hora do conto, para falar. Assim facilita também a identificação com a mensagem da história. Recomenda-se que essa conversa não seja longa e muito menos se transforme em aula. Nesse momento, podem-se fazer acordos de comportamentos durante a contação e sondagem para conhecer melhor as crianças e evitar magoar alguma com a própria história.
Há momentos em que ocorrem interrupções durante a contação de histórias, para isso recomenda-se “um gesto” – “um sorriso” – ou no máximo uma palavra com a intenção de acomodar o ouvinte mais inquieto. E logo concluída a narração, imediatamente pergunta-lhe o que estava querendo saber, dando-lhe oportunidade de participação.
Para uma boa narração é preciso absoluta segurança e naturalidade, e isto só consegue quem está perfeitamente entrosado com o assunto, domina a técnica e está convenientemente preparado para contar a história. Eis alguns fatores importantes para o sucesso:
1. Fazer a escolha cuidadosa da história que vai contar
2. Estudar a história
3. Preparar o ambiente adequadamente
4. Promover tranqüilidade, reflexão e diversão com a história narrada.

A pós a conclusão da história permita que o ouvinte faça perguntas ou expressem suas inquietudes ou posições, para que flua uma conversa sobre o tema abordado na história.

PARA CONTAR MELHOR

Emoção:é o principal elemento para se contar uma história. Se a história que eu vou contar me apaixonou, certamente ela vai sair de mim e chegar até o público. Não esquecer que emoção não é só traduzida pelo choro. De todo modo quando o movimento do corpo resulta de um movimento da alma (emoção), o gesto é verdadeiro. E o que o contador de histórias quer é provocar emoção os seus ouvintes, por isso cria formas específicas para melhor atingi-los. Quanto mais sairmos dos gestos corriqueiros, comuns e muitas vezes, mecânicos e explorarmos gestos que sejam a nossa expressão pessoal daquilo que dizemos mais instigante, artística e bonita é a contação.
Ritmo: toda história tem uma seqüência rítmica que começa a vigorar no momento em que o contador abre a boca. Cada parte da história exige uma orquestração diferente. Um ritmo que se usa para introduzir os elementos que serão desenvolvidos numa história não pode ser o mesmo utilizado quando a história vai se aproximando do seu ápice ou do seu momento d e impasse. Portanto, o contador, ao estudar o texto para ser contado, tem que saber depreender a partitura rítmica de sua história.
Clima: nenhuma história tem o mesmo clima do começo ao fim. O ritmo varia de acordo com o episódio que está sendo narrado. A manipulação dos climas de uma história faz parte da perspicácia do contador de antecipar que efeitos ele quer atingir naquele momento em sua platéia, para que o prazer com a história seja cada vez maior.
Memória: não é simplesmente decorar o texto; é memorizar, saber guardar a seqüência da história e fazer despertar em si toda a emoção no momento exato para que cada passagem possa adquirir o máximo de expressividade. O contador não é obrigado a conhecer a emoção exata de tudo o que conta,para isso existe a possibilidade de transferência de emoções, que no teatro chamamos de memória afetiva. É só buscar em suas vivencias algum fato que guarde em si aquela emoção necessária para aquele momento da história e transferi-la para lá.
Credibilidade: O contador tem que fazer a platéia acreditar naquilo que ele conta.
Texto. É o conhecimento do texto que vai dar segurança. Então é preciso ler, ler e ler. Sair da leitura superficial e fazer uma leitura na vertical, em profundidade. Reconhecer as partes formadoras do texto (introdução, desenvolvimento, clímax, desfecho). Perceber que um texto é feito de blocos. Dominar a seqüência dos fatos. Construir, minimamente, um roteiro da história.
Adequação: Lembre-se que uma história para ser contada, precisa estar adequada ao público, ao espaço onde vai ser contada e ter uma linguagem acessível e que não descaracterize o estilo do texto. Contar não é só dizer o texto.
Corpo. Os gestos servem para expressar o que está sendo verbalizado, para chamar atenção sobre aquilo que queremos destacar ou exprimir um valor pessoal, subjetivo do narrador em relação àquilo que ele diz. Por exemplo, alisar a perna para significar amor ao invés de colocar a mão no coração.
Olhar. É o cordão umbilical do contador de histórias que liga a sua platéia! O contador de histórias tem que ter seus sentidos sempre duplicados: ele olha para si e para o público ao mesmo tempo. Ele sente a si e ao público ao mesmo tempo.
Espontaneidade/naturalidade. Contar história não é empossar a voz como se estivéssemos declamando; também não é a mesma coisa que bater papo com um amigo na esquina, nem ficar com o corpo imóvel e duro como se fosse um dois de paus! É falar normalmente, com emoção e volume de quem fala para uma platéia! Muito da naturalidade vem da segurança do texto que está sendo contado, segurança adquirida nos ensaios preparatórios.
Causas e silêncios. Não é uma interrupção na história sem nenhum propósito. É uma suspensão da fala com o objetivo de intensificar o efeito de ampliar o impacto do que acabou de ser dito. E a instrução de um tempo para a platéia respirar ou pensar no que acabou de ouvir, tempo para a construção da imagem mental. Por isso, é que dizemos, como no teatro, que toda e qualquer pausa numa história tem que ser uma pausa preenchida, cheia de significados, como uma emoção que fica pulsando no ar, mesmo no silencio. Normalmente uma pausa é mais breve. O silencio tem uma duração maior.

Referencias
COELHO, Betty. CONTAR HISTÓRIAS uma arte sem idade. SP. Ática, 2006.

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